Carta a uma amiga de trabalho social e utópico.
Manaus, 23 de fevereiro de 2012.
A distância sempre foi algo que me intrigou. As lembranças de um cotidiano feito de pequenas, porém significativas, cores espalhadas em gestos cuja ausência deixa um tom de um preto e branco sem Carlitos. Um sorriso atravessado no silencio não seria muito se não fosse o acalentar de uma branda jornada em prol do soldo necessário a essa louca vida. E, assim, se vão os tempos que passam sem a presença sutil e marcante de um alguém que sobressai às multidões, de pessoas ou de pensamentos, que povoam o aqui e o ali. Fosse assim a vida, composta somente de idas, e as despedidas não seriam tão arredias. Mas a volta nos faz exercitar o consolo e a lamúria incontida na visão do retorno. O peso das conseqüências tardias mensura o espaço inocupado, mesmo que um canto, uma mesa todos transladados pela vastidão na sala fria. As notícias seriam perdidos versos de uma poesia que, em disritmia, sobrevive pela vontade de ser arte e perfume. A volta torna ornamento aquilo que devolve sentido e direção em quem toma o leme e conduz o que de si tem mais que um nome escrito, um despacho emitido ou uma incorporação por afinidade. Compreendemos que a falta não é o que pesa, mas sim a presença de outrora que persiste numa visita nada breve e incessante do recordatório diário escrito. Deste jeito vivemos o breve adeus em canções que se tocam sem que a queiramos cantar, de ausentes opções que nos fazem o regresso entoar como se fossem a derradeira porção de uma alegria nem sempre às ordens. O trecho auditivo da esperança alvoroça a comedida espera e devolve um brilho discreto e marcante às residuais lembranças cativas da crença. A simples hora de uma pequena fome ou a opinião carregada em imaginários transportes coletivos em essência interior da cativante e equilibrada experiência. Receptáculo das inquietações quase domesticadas, mas sempre ascendente a uma selvagem e árdua luta. O constrangido reagir frente às verdades quase exageradas publicizam notória humildade e, conotativamente, permanecem em delicado coração que aos muitos cativa. Sua ida ensina que sempre desejamos que a despedida fosse apenas o início do regresso. Por isso, nunca direi que fique, mas espero as boas notícias e, com ansiedade e leve desespero, a melhor delas que soará como afinados acordes ao ouvido em um refrão único e aliviante: a de que estás voltando.
Na espera da melhor das notícias,
André de Moraes
Fonte da imagem: http://weheartit.com/entry/6519275
sábado, 25 de fevereiro de 2012
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Poesia e Predicados
(André de Moraes)
A poesia é a linguagem da alma com sede
É o beijo dos táteis sentimentos em raiz
Um castiçal de alhures velas febris
A desmedida razão contrita ao ócio da rede
É o atentado contra verbos subjugados ao alívio
Rastreio do leviano coração daquela uma
Desdéns em altiva crise após a sua bruma
Romance em lascívia ternura do feroz cativo
São o desvirginar de noites deitadas e nuas
Permissivas vias jazentes em meio, fim e começo
Mapa cujo destino irradia sem muito apreço
A palavra resoluta à nau calçada das ruas
Poesias são desencontros à meia luz e vinho
Brilhantes olhares que festejam ao imenso
Arranjos vendidos logo passado o momento
Persistindo a vida sem regresso ao ninho
Encontra atrito e calor no corpo em carinho
No deleite das minúcias que chegam e vão com o vento...
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Resgate ao Nau-frágil
(André de Moraes)
Diga para que eu fique! E ficarei
Diga para que eu vá embora, e eu insistirei em ficar
Diga para que eu não te envolva que alerto sobre o frio no ar
Diga que hoje não e, talvez, o amanhã esperarei
Diga para que eu siga meu caminho e não mudará em nada o percurso
Diga para que eu corra e não irei se não puderes me acompanhar
Diga para que eu não cante e assobiarei em seus lábios nossos beijos
Diga para eu me ficar longe, mas não fuja do meu olhar
Diga que a chama apagou que te faço entender o real sentido dos desejos
Diga para que eu não fale e escreverei
Diga para que eu não escreva, mas não recuse os abraços
Diga que estás cansada que te reapresento meus braços
Diga que o que te falta que a engenharia serei
Diga para eu parar e, inerte, serei o teu colo mudo
Diga que não dá mais que eu te mostro o real limite
Diga que eu te dê liberdade que deixo entreaberto o convite
Diga para que eu fuja e eu te mostrarei o muro que nos separa do resto do mundo
Diga para que eu esqueça e te contarei as lembranças
Diga para eu morra, mas não negue cumplicidade na morte das nossas muitas saudades
Diga que amanhã não será mais e eu farei o tempo parar nessa idade
Diga que se rende e eu tocarei a música em lírios e você em dança
Diga para que... Aliás, não diga mais nada
Língua e boca não caladas
Mas sem palavra alada
Naufraga a despedida,
Façamos mil delícias
Na cama, na mesa ou na escada...
Diga para que eu fique! E ficarei
Diga para que eu vá embora, e eu insistirei em ficar
Diga para que eu não te envolva que alerto sobre o frio no ar
Diga que hoje não e, talvez, o amanhã esperarei
Diga para que eu siga meu caminho e não mudará em nada o percurso
Diga para que eu corra e não irei se não puderes me acompanhar
Diga para que eu não cante e assobiarei em seus lábios nossos beijos
Diga para eu me ficar longe, mas não fuja do meu olhar
Diga que a chama apagou que te faço entender o real sentido dos desejos
Diga para que eu não fale e escreverei
Diga para que eu não escreva, mas não recuse os abraços
Diga que estás cansada que te reapresento meus braços
Diga que o que te falta que a engenharia serei
Diga para eu parar e, inerte, serei o teu colo mudo
Diga que não dá mais que eu te mostro o real limite
Diga que eu te dê liberdade que deixo entreaberto o convite
Diga para que eu fuja e eu te mostrarei o muro que nos separa do resto do mundo
Diga para que eu esqueça e te contarei as lembranças
Diga para eu morra, mas não negue cumplicidade na morte das nossas muitas saudades
Diga que amanhã não será mais e eu farei o tempo parar nessa idade
Diga que se rende e eu tocarei a música em lírios e você em dança
Diga para que... Aliás, não diga mais nada
Língua e boca não caladas
Mas sem palavra alada
Naufraga a despedida,
Façamos mil delícias
Na cama, na mesa ou na escada...
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
Imoradias
Ainda refletindo sobre o direito à moradia que nos é roubado em circunstâncias como a do Pinheirinho, em São José dos Campos, SP. Poesia, pois a revolta também se externa em arte.
Imoradias
(André de Moraes)
Isentos carregam olhares acima dos ares
Um sul inflado esvazia o sentido da culpa
Atrevidas em alma que aos corpos se ajunta
E vão a luta com o pesar de quem busca lares
Famintos anseios fragmentados ao longe
Destituídos de medo afirmam a ordem em palavras
Ilumina o peito e na terra crava
O coletivo intento dessa história não há de perder o bonde
Cerrados, os pulsos ainda pulsam
Ex-pulsos não saem dessa terra, boca ou alma
Delírios dotados de revolta sem calma
Unidos revidam, em sua honra, as cabeças dos que não a usam
O estado não fez a lição de casa
Nada vê senão uma fina película de cidadania
Destitui-se mais que as famílias em imoradia
Na perversa busca por aquilo que lhe abrasa
O capital que fere ao muitos e somente à alguns bolsos alivia
Mas esperança vive em meio aos que sonham
Sem casa, ainda restam portas no coração solidário
Abrindo caminhos mesmo em incerto itinerário
Reacendem vontades e alimentos fracionam
Na incessante busca pela justiça tencionam
Questionando os que fazem do comum o raro
Que, sujeitando famílias a um preço frio e caro
Poupam-nos, pois a si mesmo sentenciam...
Atrevidas em alma que aos corpos se ajunta
E vão a luta com o pesar de quem busca lares
Famintos anseios fragmentados ao longe
Destituídos de medo afirmam a ordem em palavras
Ilumina o peito e na terra crava
O coletivo intento dessa história não há de perder o bonde
Cerrados, os pulsos ainda pulsam
Ex-pulsos não saem dessa terra, boca ou alma
Delírios dotados de revolta sem calma
Unidos revidam, em sua honra, as cabeças dos que não a usam
O estado não fez a lição de casa
Nada vê senão uma fina película de cidadania
Destitui-se mais que as famílias em imoradia
Na perversa busca por aquilo que lhe abrasa
O capital que fere ao muitos e somente à alguns bolsos alivia
Mas esperança vive em meio aos que sonham
Sem casa, ainda restam portas no coração solidário
Abrindo caminhos mesmo em incerto itinerário
Reacendem vontades e alimentos fracionam
Na incessante busca pela justiça tencionam
Questionando os que fazem do comum o raro
Que, sujeitando famílias a um preço frio e caro
Poupam-nos, pois a si mesmo sentenciam...
Fonte da figura: http://www.portalflm.com.br/
Flor-Ida, Flor-Volta
(André de Moraes)
Retalhos me soam adeus em navios
Onde chegam, fitam e partem olhos felizes
Em fascínios, abraços, vinhos e raízes
Descalças saudades se lapidam em rios
Passíveis cantigas de rodas em trios
Em fantasias que flui daquilo que dizes
O coração reclamava um rosto feliz
A página se despia à minguante lua
A alma minha, o corpo findo e a boca tua
Mastigando as horas em silêncio diz
Harmonia e luz, melodia e cor, ritmo e rua
Em calçadas imprimiste o relicário
Vagando nas sínteses de um certo cantador
Que vestido de vulto toma o violão sem nada impor
Aquecendo-a gira em dança a saia em ramalho
Voltando trapezista a reluzir o temporário
Dos ímpetos maoris dessa linda e delicada flor
Flagrantes perdas me deixam e, em si, vão
Recitando as horas num cestinho desejava
Elevada ao destino em primo vôo alçava
Com instrumentos cozia rico e farto pão
Movendo sabores, jorrando palavra, talhando caminhos à mão
Escondendo-se à porta que nunca trancava
Arrebentada em secreto por vício, anseio e paixão
Não entregue, todavia, a qualquer um em qualquer porção
Senão à seara da liberdade e do amor
Como alimento dado à leal utopia
Embriagando o mundo de eterna euforia
Sempre disposta a desabrochar ao sentir o coração em calor...
Retalhos me soam adeus em navios
Onde chegam, fitam e partem olhos felizes
Em fascínios, abraços, vinhos e raízes
Descalças saudades se lapidam em rios
Passíveis cantigas de rodas em trios
Em fantasias que flui daquilo que dizes
O coração reclamava um rosto feliz
A página se despia à minguante lua
A alma minha, o corpo findo e a boca tua
Mastigando as horas em silêncio diz
Harmonia e luz, melodia e cor, ritmo e rua
Em calçadas imprimiste o relicário
Vagando nas sínteses de um certo cantador
Que vestido de vulto toma o violão sem nada impor
Aquecendo-a gira em dança a saia em ramalho
Voltando trapezista a reluzir o temporário
Dos ímpetos maoris dessa linda e delicada flor
Flagrantes perdas me deixam e, em si, vão
Recitando as horas num cestinho desejava
Elevada ao destino em primo vôo alçava
Com instrumentos cozia rico e farto pão
Movendo sabores, jorrando palavra, talhando caminhos à mão
Escondendo-se à porta que nunca trancava
Arrebentada em secreto por vício, anseio e paixão
Não entregue, todavia, a qualquer um em qualquer porção
Senão à seara da liberdade e do amor
Como alimento dado à leal utopia
Embriagando o mundo de eterna euforia
Sempre disposta a desabrochar ao sentir o coração em calor...
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