quinta-feira, 27 de abril de 2017

Ali-vi-o Espinho

(André de Moraes)


Pareciam flores
Cheguei mais perto
Não sabendo ao certo
Pensei amores
No coração desabrocharam cores...
Era um espinho de pétalas coberto

Indaguei seu disfarce
Como podia enganar-me assim
Ousando melhor aparência para si
Na esperança que eu o abrace?

O espinho respondeu:
Minha vida é ferir
E depois ver o ferido partir
Não espera para entender como eu
Sem aquilo que o poeta nos deu
Poderia alguém atrair

Voltei para mim
Abracei o espinho
Dor ao invésde carinho
Suportei até o fim
Suei orvalho naquele jardim
Até que surgisse um ninho

"Não espere prazer"
Disse o espinho já comedido
Apontando para outro sentido
Mostrava rosas a florescer
Lembrando os olhos do doce viver
E na cúmplice pele, o dolorido

Eu, não mais arrependido
Habitei aquele lugar
Vi que mil vidas poderia ter tido
E em todas, o espinho havia de abraçar
Mesmo sem pétalas, sem disfarçar
Aquilo me seria abrigo...


Pelo tempo das muitas cumplicidades que abrigamos em nós ❤🍃

terça-feira, 4 de abril de 2017

Naquela Paixão Vi-vida

(André de Moraes)

A paixão que eu não vivi
Diz muito sobre mim
Cedi contínuo “sim”
Ao tempo que passou e não sofri
Como quando dormi
Enquanto acordada
Estavas dentro de mim

A paixão que não vivi
Não voltou
Foi-se com saudades daquela dança
Que nos envolveu como trança
E partindo
O laço
Desatou
Sorrindo
Chorou
Jamais saberia se indo
Renunciava amor

A paixão que não vivi
Ainda vive
Resiste
Mas não insiste
Talvez cansada do ócio
Que povoou nossos lábios
E não nos fez sócios
Do comum negócio
Que não fechamos
Pelo desperdício voluntário
Como apertado salário
Que se gasta com qualquer troço

A paixão que não vivi
Vi
Noutro seio
Sem rodeio
Rodava e torno de si
Feliz
Consegui sorrir
Mas não hábil atriz
Refiz
O trajeto do pensamento
Que de tão intenso
Nunca passou
Decidido ficou
Revisitando em contínuo o tempo
Quando o ali era aqui
E o depois, agora
Naquela hora
Entendi

A paixão que não vivi
Aconteceu
Não comigo
Mas com um outro eu
Que noutro seio encontrou abrigo
Ao invés de inimigo
A mim completou
E semeando o que sobrou
Colhi um destino
No qual não me confino
Pelo tu que em mim restou
Liberdade

E amor...