terça-feira, 4 de abril de 2017

Naquela Paixão Vi-vida

(André de Moraes)

A paixão que eu não vivi
Diz muito sobre mim
Cedi contínuo “sim”
Ao tempo que passou e não sofri
Como quando dormi
Enquanto acordada
Estavas dentro de mim

A paixão que não vivi
Não voltou
Foi-se com saudades daquela dança
Que nos envolveu como trança
E partindo
O laço
Desatou
Sorrindo
Chorou
Jamais saberia se indo
Renunciava amor

A paixão que não vivi
Ainda vive
Resiste
Mas não insiste
Talvez cansada do ócio
Que povoou nossos lábios
E não nos fez sócios
Do comum negócio
Que não fechamos
Pelo desperdício voluntário
Como apertado salário
Que se gasta com qualquer troço

A paixão que não vivi
Vi
Noutro seio
Sem rodeio
Rodava e torno de si
Feliz
Consegui sorrir
Mas não hábil atriz
Refiz
O trajeto do pensamento
Que de tão intenso
Nunca passou
Decidido ficou
Revisitando em contínuo o tempo
Quando o ali era aqui
E o depois, agora
Naquela hora
Entendi

A paixão que não vivi
Aconteceu
Não comigo
Mas com um outro eu
Que noutro seio encontrou abrigo
Ao invés de inimigo
A mim completou
E semeando o que sobrou
Colhi um destino
No qual não me confino
Pelo tu que em mim restou
Liberdade

E amor...



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