terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Fora Amazonino!

Hoje, ao chegar em casa, acesso o twitter pelo celular e me deparo com algumas mensagens indignadas com o Amazonino. Até então, nenhuma novidade. Numa delas, havia um link para o YouTube e assisti ao vídeo que realmente justifica as mensagens que eu havia lido. O vídeo retrata o prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, no auge do seu descontrole “sugerindo” para a moradora de uma área de risco que “Morra” por três vezes (igual a Pedro negando Jesus) depois desta ter dito que morava ali por não ter opção. Não satisfeito, pergunta sua origem e ao ouvir “sou do Pará” solta: “pronto, tá explicado!”. E entendo a indignação dos tuiteiros e promovo o assunto para meus poucos seguidores. E me motivo a escrever um registro para o blog.

Minha primeira reação foi uma indignação do tamanho dos problemas que a cidade enfrenta por omissão e incapacidade de gestão pública. Como pode uma reação dessas? Vi que a repercussão já conta no mínimo com Globo, Folha, G1, UOL, etc. que, embora eu tenha restrições a tais veículos, reconheço que atingem um público muito amplo. A assessoria tentará explicar. Os coniventes/parceiros/dependentes de Amazonino ficarão calados. Os vereadores da situação esperarão um pouco para ver se devem ou não abandonar o barco do “capitão Negão”. A oposição irá pra cima (espero). Mas quem vai definir isso é a população. Por isso devemos dar um basta nessa política de “faz de conta” que já não engana mais a ninguém e tomar as ruas numa só voz: FORA AMAZONINO!

Esse episódio é só um estopim para uma revolta latente do povo manauense. Temos que registrar nossas impressões sobre o ocorrido e direcionar essa mudança que já está em curso desde as manifestações pela meia-passagem. Seguir o exemplo do Egito e externar a revolta de quem está segregado nas áreas de risco e ainda tem que encarar preconceito daquele que deveria trazer sua solução. Que morra e seja enterrada a velha política populista que maquia a realidade e que de sua compostagem sujam alternativas para a justiça social e o direito à cidade. Enquanto isso não acontecer, que não haja paz no mundo politiqueiro na qual Amazonino representa o que há de pior.

André de Oliveira Moraes

Confira abaixo o vídeo da cena.



quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Hidrelétricas de Belo Monte: como compreender suas conseqüências

Quando ouvimos as informações mais fortemente propagadas sobre as hidrelétricas de Belo Monte, temos a impressão de que o impasse a respeito do projeto se dá por conta da oposição de ambientalista a implantação das obras (Ambientalistas X Desenvolvimentistas). O que não fica claro é a oposição que povos indígenas, populações camponesas e parceiros estão travando em defesa de seus territórios.
Para compreender esta oposição, peço ao leitor que se imagine em sua comunidade. Aí, você desenvolve suas articulações sociais, onde fome e degradação ambiental são termos exóticos. Esse lugar encerra todas as suas redes sociais, contém seus templos religiosos, sua história e a história de seu povo.
De repente, um país estrangeiro anuncia que necessita desse seu lugar para alimentar as necessidades crescentes de seus príncipes. Eles pedem que você e seus vizinhos se mudem dali. Você não compreende os motivos, mas eles te explicam que isso tudo será necessário para o otnemivlovnesed.
Mas otnemivlovnesed não significa nada para você. Eles insistem e dizem que você não precisa se preocupar. Sua comunidade poderá viver nas cidades deles e que assim vocês também poderão desfrutar do otnemivlovnesed.
Mas, mesmo não querendo criar seus filhos em um lugar estranho, você não tem escolha. Quando percebe, seus filhos já não mais compreendem as suas histórias e sentem uma necessidade louca de otnemivlovnesed, mas isso é muito caro para você.
Sua família vai passar muitas gerações trabalhando em busca de otnemivlovnesed e, enquanto isso, você não mais conseguirá reconhecer seu povo, sua imagem estará eternamente exposta em um museu, como um cara estranho, primitivo ao lado de fotos da fauna e da flora. É possível que gravem um documentário para o Globo Natureza ou para outro programa de TV, mostrando você como representante daquele mundo selvagem, ignorando sua cultura e história.
Nas obras, você será o mais prejudicado, mas a imprensa vai fazer questão de dizer que existem dois lados opostos: os que defendem a natureza selvagem e os que defendem o otnemivlovnesed que, lido as avessas: desenvolvimento.
É bem verdade que os interesses dos povos e populações atingidas por Belo Monte convergem com os interesses de ambientalistas. No entanto, além da destruição da natureza, é o destino de vários povos indígenas do rio Xingu que mais preocupa, pois correm sérios riscos de perderem a terra e o rio. Vale lembrar que são as relações que o Kaiapó mantém com a natureza que garantem a manutenção de tanta vida naquele importante pedaço do mundo.
E o que podemos oferecer em troca disso? Um belo lugar em Altamira, um cidade sem infra-estrutura para manter seus 94 mil habitantes e que deve dobrar de tamanho com o grande contingente de homens atraídos por especulações sobre a hidrelétrica?

Casa da Cultura do Urubuí, 03 de fevereiro de 2011

Tiago Maiká Müller Schwade