domingo, 18 de abril de 2010

Monções de Inverno

"... sim, daquelas poesias expontâneas que fazemos quando o coração demanda se abrir! - dizia o cantador a mulher que perguntara como tinha feito com essas palavras..."


Monções de Inverno
(André de Moraes)


Em março te são as flores a que pertence
Junto aos vinhedos condensados, embriagantes
Molham as pétalas, secas ao sol, destiladas
Vívaras, árvores docentes e flertantes

Portas convidantes, con-vincentes ou semeadas
Ouvires seu ourives e os cantadores de estações
Ao cheiro de cálidas conversas sob lundus e cevada

Contemplação, cenas, peças, portícos e fadas

Rotas medidas, contritas a uma porção de amores
Mil artes no sentido dos mesmos destinos lentos
Fartas geografias inscritas nas palavras e sabores

Depois da ida, meios e tempos, nortes e ventos, vidas e cores


À Juliana, com amor.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

"Cê"












Caminhos, construídos, concentrados
Certezas, comovidas, contempladas
Condições, cortesias, convidados
Curas, cadências, comparados
Comoções, contrações, confiados...


Cartas, céu, cordéis
Compreenção, convictos, consolados
Carinhos, curtidos, cavados
Cortinas, cobertas, cedidas
Canções, corações, completados...


À Juliana, com amor.


p.s.: título da foto: "por onde andei, enquanto você me procurava?"

terça-feira, 13 de abril de 2010

Uma Verdade Inconveniente... Tal Qual Algumas Questões

Me apropriando de uma atitude de um amigo, que ao entregar uma prova a um professor, tirava cópias desta e distribuia para que não somente o professor pudesse avaliar mas qualquer um que tivesse acesso ao conteúdo da prova, publico um texto que fiz sobre o documentário "Uma Verdade Inconveniente", ilustrando Al Gore, para a disciplina "Sociedade e Sustentabilidade" do mestrado em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia da UFAM.



‘Uma’ Verdade Inconveniente... Tal Qual ‘Alguns’ Questionamentos

André de Oliveira Moraes


O que esperar de um político norte-americano divulgando informações científicas de forma jornalística com fins ‘ambientais’? E tudo isso na primeira aula de uma disciplina chamada “Sociedade e Sustentabilidade” num curso de Pós-graduação em Ciência Ambiental! O vídeo “Um Verdade Inconveniente” é um retrato dessa realidade cuja função ambiental absolve alguns (de)méritos. Nesse pequeno texto, pretende-se problematizar o aspecto político do vídeo, uma vez que somente por meio deste não é possível inferir críticas sobre a tese do aquecimento global defendida por Al Gore, sendo necessário maior aprofundamento do tema, não possível para esse trabalho.
O vídeo gira em torno da palestra de Al Gore (o mesmo que cobrou U$ 300.000,00 para comparecer a um ‘evento ambiental’ em Manaus recentemente) segundo o qual já fora ministrada mais de 1.000 vezes ao redor do mundo. Em verdade uma aula com o que há de melhor em recursos didáticos audiovisuais e subsídios científicos de ‘amigos’. Permeada por cenas da vida e cotidiano do palestrante, as informações são expostas constituindo os dados científicos associados a realidades fetídicas da paisagem ambiental. A imagem da terra como percepção da totalidade ambiental e da finitude dos recursos, a quase perda de um filho, o professor de geografia desestimulante e o professor universitário visionário, o processo eleitoral para presidente dos Estados Unidos da América, entre outros fatos são associados aos aspectos políticos e ambientais das mudanças climáticas. Alarmantes, urgentes, inconvenientes, necessários ou qualquer outro adjetivo que não tocasse de forma realmente incômoda ao motor da problemática ambiental que é o desenfreado modo capitalista de produção e o seu suporte consumista. A verdade pode se fazer presente no vídeo quando não há esforço nenhum em se aparentar o ‘ecologicamente correto’ mas no simples ato de reproduzir o vetor da insustentabilidade que é o consumismo ilustrado pelo estilo norte-americano de vida.
Os aspectos limítrofes da relação parcialíssima entre a questão ambiental e a política se mostram claros no discurso de Al Gore que, na forma do tradicional etnocentrismo norte-americano, apresenta a discussão nos termos de sua trajetória: a infância em uma grande propriedade, refletindo a concentração de terras; a derrota do pleito para presidência da república, sugerindo que também derrocava ali a chance da mudança ambiental no momento; o fomento ao papel messiânico dos Estados Unidos na resolução do problema climático curiosamente se apoiando no fato deste ser o maior emissor de gases do efeito estufa e, por isso, reivindicando esse status; e se apoiando no discurso malthusiano indicando, inclusive, os pobres como responsáveis pela pressão sobre os recursos. Tais aspectos permitem a problematização dos meios pelo qual a realidade fora exposta contando que esses não se justificam com vistas ao seu fim, no caso, o problema ambiental resultante do aquecimento global.
Partindo da perspectiva de ciência de Latour (2000) onde as relações sociais e políticas permeiam o ambiente da produção do conhecimento científico num movimento cíclico de ida e vinda, o vídeo pernicia a questão ambiental com o tema do aquecimento global entre aspectos da antropologia da ciência reconhecendo tais relações de forma explicitamente medíocre. A perspectiva ideológica da construção da informação no vídeo é evidente quando da exaltação da democracia norte-americana como fundamento político dessa solução sem, por exemplo, sequer criticar o ‘estilo norte-americano de vida’ baseado no consumismo. Ou seja, o movimento é contraditório e não se baseia em evidências da problemática social para fundamentar princípios ambientais que, aos olhos de Al Gore, são perfeitamente digeridas em suas fáceis proposições de tecnologias sustentáveis para os poucos que a ela tem acesso.
Entre dados científicos obtidos ‘amistosamente’ e cenas do seu cotidiano, Al Gore destina seu acúmulo sobre o tema em uma base científica parcial e politicamente escorregadia. Aos ‘céticos’ cabe hoje a periferia científica das publicações e os boicotes que Gore afirma ter sido imposto aos que outrora defendiam a tese do aquecimento. O que dizer de uma conferencia (COP15) onde um país tem mais de 1.000 pessoas na sua delegação para ‘discutir’ a temática? O consenso científico é importante em que escala? Quem são os cidadãos sem acesso ao conhecimento acadêmico senão receptáculos do pensamento dominante? E a tortura dos dados para que estes confessem que está esquentando? E com que olhar os estudantes de um curso de pós-graduação em Ciência Ambiental recebem essas informações?
Estas e outras questões surgem para problematizar e gerar o debate político próprio à questão ambiental tanto em sua face militante quanto científica. Nesse sentido, os especialistas são tão políticos quanto Al Gore. A diferença é que se a verdade está para a ciência assim como a conveniência para a política ou o inverso, para Al Gore isso é apenas uma conveniente questão de referencial.


Críticas críticas...