quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Aquém?

André de Moraes


O sentir tímido de uma frágil intenção
Por latente desvirtua eleitas palavras
Guiam em vão e vem das licenças roubadas
E, aquém do ouvido, transgressoras em vão

Femininos corações amam em latifúndio
Artesão da tristeza, o velho Vinícius
A raiva falida que se vale dos princípios
Semeiam verdades no paladar da dor

Calados no desdém de um acorde menor
Os bêbados poemas perdem o tempo de despertar
A palavra não cometida naquele flagrante pensar
Ao chão desfalecem despidos em tom maior

Ali se entrega em nefasto e musical batismo
Despida das cartas escritas à meia-mão
Ferindo a pele do desejo tatuas o jargão
Ignoras tal melodia composta em dadaísmo

O intento solista espera aplausos vitais
Aos movimentos se doa em leve perdição
Aos solteiros elogios inclina a carente audição
Não domando a euforia por migalhas a mais
Finda tateando o silencio que nada atrai
Esquecido em raros fósseis daquele 'fácil' coração...


















FOTO: André de Moraes (disparo automático). Seabra, Bahia (agosto de 2008)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Ale-gres


André de Moraes

 

















Onde mora a alegria senão nos recônditos da alma
Mesmo o canto triste não ousa ignorar o fascínio
De uma luz que brilha sem se importar com o destino
E sorri ao intento de surpreender enquanto acalma

Tal sorriso convence ao mais contido tentar
Não despeja em frias decisões o calor do momento
Aquece em mil porções o sabor que germina ao vento
Incendiando as cinzas do, outrora, perdido lutar

Embalado em redes descansa o corpo feliz
Que a vida acariciou e aos rios não negou nado
Levantando em direção ao sentir de um afago
Festejou o nascer belo e inexato de um viver aprendiz

Decifrando a despedida em derivados detalhes
De palavras e pronuncias na ousada indumentária
Se no Brasil da caipirinha, ou pelo vinho da Itália
Não me furto ao embriagar num sorrir de entalhe
Quando sambistas inspiram alegria e espantam males
E navegando descrevo o ruir da tristeza em láurea


FOTO: "Roda de Samba" por André de Moraes.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Revoluindo ao Primeiro Ato

André de Moraes

E quando o tempo parece passear por nós
Os dias embebecidos numa nuvem de revolta
Um sobreviver não comum pela vil escolta
Ainda com sombras de quem vem e tenta calar a voz

Não disseste que assim seria a primavera?
E que o muito amor seria um contento descarado
Sem vergonha da vida e mandando ao caralho
Aquilo que não fosse destruir com essa miséria

Esse cordão que nunca fora umbilicado de fato
Frugal seria o nascer da crítica aos putos políticos
Transitando pelas veias dos mil intentos malígnos
De uma vida que sempre se alimentou do mais barato

A alma que luta não responde sim ao maldito sistema
Que busca enferrujar uma revolução por segundo
Mas ao que pensa um outro possível pra esse mundo
Não se cala com o baixar das cortinas entre cenas
Retratando a miséria política que insiste em protagonizar tudo
No teatro dessa vida que ainda insiste em ser mudo


Fonte da Figura: http://www.link.dequalidade.com.br/index.php/entreterimento/em-caso-de-uma-revolucao-peguem-as-mascaras/

Mora-noite, Mora-dia


André de Moraes












As cordas, às vezes vocais, enforcam o grito
Os nós, às vezes plurais, unem as mãos
À sós, as vezes noturno, reclamam a maldição
Ali, às vezes dentro, expõem o sangue em rito
Na foz, às vezes retida, que não se expande em vazão

O coração, às vezes vermelho, reclama igualdades
A mão, às vezes cerrada, empunha o abraço ambíguo
Os olhos, às vezes vendados, apunhalam o amigo
As veias, às vezes abertas, circulam em mais cidades
E o dedo, às vezes apontado, descreve o destino

Políticos, às vezes dormentes, manejam o injusto
Populares, às vezes em linha de frente, carregam as flores
Indignados, às vezes distantes, escrevem seus horrores
Crianças, às vezes infantis, fogem ao pedido adulto
Mulheres, às vezes Maria, escolhem a menor entre as dores

Uma manhã, às vezes negra, como o anseio que se incendeia
A moradia, às vezes barraco, abriga a mais feroz luta
O ferido, às vezes de pé, não cede mesmo à força bruta
E com a semente, às vezes crioula, cultiva mesmo em areia

A revolta, às vezes externa, trará de volta o povo hoje em fuga
O amanhã, às vezes longe, há de ver em justiça social restituir
A terra, “às vezes” roubada, para as vidas de que nunca deveriam partir
Os sonhos, às vezes plantados, livres para fluir na liberdade que aos perversos insulta


Em solidariedade aos companheiros do Pinheirinho. Resistam!


domingo, 22 de janeiro de 2012

Basta?

André de Moraes













Para um bom entendedor, meia palavra...
Para um bom boêmio, meia dose...
Para um bom apaixonado, meia saudade...
Para um bom amante, meia-taça...
Para um bom jogador, meio-campo...
Para um bom romance, meia luz...
Para um bom viajante, o meio...
Para um bom estudante, meia passagem...
Para um bom restaurante, meio-dia...
Para uma boa festa, meia-noite...
Para um bom sapato, meia...
Para um bom Geógrafo, o homem e o meio...
Para um bom ator, meia platéia...
Para um bom dançarino, meia pista...
Para um bom pedestre, meio fio...
Para um bom seresteiro, meia-lua...
Para um bom pagão, meia oração...
Para a Adriana Calcanhotto, meia-hora...
Para um bom estagiário, meio expediente...
Para uma boa cruzada de pernas, meia-calça...
Para um bom prevenido, pé de meia...
Para Deus, estar no meio de nós...
Para uma boa pedra, o meio do caminho...
Para um bom conciliador, meio termo...
Para um ‘bom’ faminto, meio prato...
Para um bom Designer, meio traço...
Para um bom enrolão, meia-boca...
Para uma boa saia, meia-perna...
Para um bom Médico, meia-vida...
Para um bom surfista, meia onda...
Para uma boa cidade, meio de transporte...
Para um bom planeta, meio ambiente...
Para um bom começo, meio...
Para um bom meio, fim...

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