segunda-feira, 17 de maio de 2010

Intocando, Intocado

Dessas coisas nada a ver, saem outras tudo a sentir...




Um dia, ao ouvir uma música, pensei estar inserido nela e comecei a vivê-la.
Fiz tudo que ela indicava pensando que poderia ser tão feliz quanto harmoniosa era sua melodia.
Não deu certo.
Faltou-me alguma coisa que não soube explicar.
Daí pensei em como tinha perdido tempo tentando viver a música de alguém que talvez a tivesse composto no auge de sua estada na privada e me desiludi.
Segui o tempo e de repente outra música e fui tentado novamente a me apropriar de seu enredo.
Pensei.
Não me arrisquei.
Mais meio tempo depois, outra música, e outra e outra. Não entendi. Quando parei de pensar nisso, a música que tentei viver toca. Quando ia me revoltar vi que quem a tocava era um velho resmungão num andarilho violão.
Aproximei-me para verificar o que falava e vi que seus queixumes também eram por não ter conseguido ser a maldita música.
Compartilhei com ele a minha experiência e ele me falou: não podemos viver uma canção! Ela já existiu na história de alguém, mesmo enquanto possibilidade.
Tenho tentado a vida toda compor outra música que me ilustre, mas não tem jeito, ela já existe...
Louvores ao compositor!
E seguia o velho tocando, e permanecia, intocado, intocando.


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