quinta-feira, 30 de março de 2017

A Solidão da Palavra Não Dita

(André de Moraes)


A ponta daquela língua
Por muitas vezes hospedara aquelas palavras
Que não saíam visto as muitas travas
E acabariam solitárias e à míngua
Numa vida de direção ambígua
Que da dúvida se via escrava

Quanto seria suficiente motivo
De estranha, porém real, atitude
De não acolher a calada palavra como virtude
Antes satisfazer-se na capa do livro
Que semelhante ao teto de vidro
Se quebra
Não importando beleza ou amplitude

Solitária àquele presente
A palavra ousou sair
Não sabendo mais como mentir
Nem mais suportando ser tida como doente
Reivindicando tratamento coerente
Cansada foi dormir
Acordou ao sentir
Que haviam lhe atribuído nova corrente
E em vão tentou destruir como o mesmo dente
Que um dia ornou seu sorrir
E hoje parecia simplesmente servir
Como prova de sua tentativa inocente

Todavia não se rendeu
Rangeu até o fim
E não havendo mais dia
A noite foi sua guia
Na construção do interno jardim
Onde boas culturas vingavam, enfim
E um refúgio se construía
Até que juntas as “mudas” fossem a livraria
Que para sempre teria dentro de si
E somente quem entrasse ali
Veria
Entenderia
Comigo a sorrir...



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