sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

E Assim (não) Caminha a Geografia

Em meio aos debates sobre a questão profissional do Geógrafo (bacharel), fiz uma carta aberta à comunidade geográfica do Amazonas. Motivei-me a escrever o texto pelo fato de que o Departamento de Geografia da UFAM, pelo qual me formei, não tem dado a devida atenção a questão.


Carta Aberta a Comunidade Geográfica do Amazonas
E Assim (não) Caminha a Geografia...


Na última segunda-feira (17/01/2011), recebo a notícia que ocorreram modificações na grade curricular dos cursos de Geografia da UFAM. Vejo as mudanças tanto na licenciatura, que me parecem ter ocorrido em consonância com indicações do MEC, quanto no currículo do Bacharelado. Atenho-me a minha delimitação profissional (Bacharel) e percebo que na verdade não houve mudanças. Frente ao entendimento do Departamento de Geografia (DEGEO) da UFAM de que não foram necessárias grandes modificações/melhorias no currículo, me preocupo.

Formado em Geografia Bacharelado no início de 2009, desde meados de 2007 venho acompanhando as discussões acerca da questão profissional no âmbito nacional compondo, inclusive, o GT Assuntos Profissionais da AGB Nacional (DEN 2008-2010). Existem várias questões em aberto acerca do Geógrafo Bacharel e seu mal resolvido mercado de trabalho. Com o acúmulo sobre o tema que já existe, é necessário que este seja considerado em momentos como a discussão do projeto político-pedagógico, inclusive a reestruturação do currículo. Entretanto, infelizmente não parece ser o que aconteceu no DEGEO/UFAM.

Como bacharéis egressos do curso, eu e alguns colegas compartilhamos angústias de profissionais formados que não tem espaço no chamado “mercado de trabalho”. A angústia aumenta quando penso que tentei fazer tudo o que estava ao meu alcance para garantir uma boa formação e isso hoje não é garantia de nada. A pós-graduação passa a ser o caminho de uma qualificação para adiramos um pouco mais a mesma angústia. Mas, e se não quisermos ser professores-pesquisadores de uma universidade ou instituto de pesquisa? Nesse caso parece que nos resta pouco, muito pouco em termos de opções. Nas empresas privadas, nossa inserção é quase zero. Concursos públicos? Conto nos dedos de uma das mãos as vagas que foram abertas para geógrafos na última década no Amazonas. Será se realmente não precisamos repensar o Bacharelado em Geografia?

Simplesmente não entra na minha cabeça que se tenha feito mudanças no bacharelado em geografia sem uma mísera consulta ao Conselho Regional de Engenharia ‘Arquitetura’ e Agronomia – CREA-AM onde somos registrados profissionalmente. Além disso, será se na “discussão” foram considerados fatores como 1) a questão que constam na Resolução 1.010/2005, que mudou totalmente a forma de reconhecimento de atribuições profissionais e tirou nossas competências em tecnologias? 2) A quase aprovada criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo – CAU que prevê uma reserva de mercado para questões urbanas deixando-nos a ver navios? 3) A carga horária insuficiente para consolidar atribuições no âmbito do sistema CONFEA/CREA?; 4) A questão dos estágios obrigatórios para bacharelado, tema que inclusive foi pauta de um evento recente na UFAM (e eu espero que o DEGEO tenha participado) e deveria ser uma forma de preparar o estudante para ser um profissional aproximando-o desse meio?; isso para citar algumas das questões mais importantes. Se não for para discutir essas questões, qual o real propósito de se formar bacharéis? Para encher a cabeça dos estudantes sobre as possibilidades de atuação e se omitir na hora de contribuir para sua efetividade?

Tenho meu diploma na mão e sou registrado no CREA-AM, mas não existe perspectiva de trabalho. Sou um profissional de direito, mas não de fato. Com isso, realmente me senti desamparado pelo departamento que me formei ao me deparar com sua omissão ao não estar sensível a situação dos seus egressos. Em conversa com alguns colegas também egressos do curso, percebi que não somente eu me sinto dessa forma. Não raro falo e ouço falar que se quisermos uma perspectiva profissional que vá para além das possibilidades é mais fácil fazer outro curso de graduação. Entretanto, sei que existem professores no DEGEO/UFAM que são sensíveis a essa questão. Sei também que é possível pensar nessas questões e fazer alguma coisa. Por isso, ainda tenho expectativas de que esse texto possa ser objeto de auto-reflexão crítica por parte do corpo docente do DEGEO/UFAM.

Penso que o mínimo a ser feita é um seminário para debater a questão. Convidar estudantes, professores, egressos e profissionais com experiência e acúmulo na discussão. Acredito que a maioria dos professores do DEGEO/UFAM não tem acúmulo no tema até porque nunca dependeram de atuação profissional (bacharel) e talvez nunca tenham sentido necessidade de se aproximar dessas questões. Todavia, mesmo se isso for fato, não é justificável visto que se propuseram a formar esses profissionais e, por isso, deveriam obrigatoriamente estar inseridos na discussão. O DEGEO/UFAM é o único curso de bacharelado em geografia do Amazonas e tem essa responsabilidade e, por acreditar na sensibilidade dos meus professores, fico na expectativa de que se supere esse status de omissão para uma efetiva contribuição em nossa formação profissional.

Manaus, 19 de janeiro de 2011.


André de Oliveira Moraes
Geógrafo, egresso do curso de Bacharel em Geografia da UFAM.

Fonte da figura: http://conhecimentopratico.uol.com.br/geografia/mapas-demografia/24/artigo181157-2.asp

2 comentários:

  1. Olá André, eu sou bacharelando do curso e tambem sinto essa angústia, a cada semestre que passa eu me sinto mais preoculpado com meu futuro, e vejo nas outras profissões tantas oportunidades que eu penso em se foi uma boa ter escolhido Geografia.

    Não que eu não ame essa ciência, muito pelo contrário, a geografia tem um diferencial do olhar sistemico. Mas penso o quanto ela ficou para trás, se falo para os meu colegas (alunos e professores) que deveríamos ter mais disciplinas e carga horária de tecnológicas e exatas, o pessoal logo fala em reprovações em massa, ENTÃO QUE OCORRA REPROVAÇÕES EM MASSA, (não há gloria sem esforço ou sacrifícios), deveríamos ter calculo, dicliplina que abre possibilidades de fazer tantas outras como topografia, geodésia e agrimensura; deveríamos ter diciplinas ligadas a desenho técnico, e não só aprender a apertar botão como é feito atualmente nos SIG's.

    Fui representande dicente e essas dicursões foram fracas, havia mais bate boca, mas não se discutia o que o mercado de trabalho quer do geógrafo (que necessita de um profissional ambiental com ênfase em geotecnologia), se discutia como o departamento podia se organizar nas mudança da grade.

    Perdemos muito mercado para outros profissionais, se um geógrafo formado quer mais espaço tem fazer cursos externos como autocad, edificações e geoprocessamento para poder concorrer com igualdade. O que sobrou para a geografia foi os trabalhos cartográficos, pois os outros profissionais ainda fazem (por enquanto) um péssimo trabalho, mas mesn=mo nessa área os geógrafos tem medo de realizar esse trabalhos por não domínio dos SIG's.

    A geografia deve se aperfeiçoar o que faz melhor, e apliar os conhecimentos nas áreas onde há deficiência de profissionais, como trabalhos geotécnicos e geofísicos, pois há geólogos fazendo trabalho de (peão) topografia pois não muitos técnicos em topografia no mercado; e nós não podemos fazer por não termos essa competência em CREA.

    Desculpa o texto longo, mas essa não é só sua revolta amigo de ciência, e o que eu poderei fazer aqui no departamento eu farei

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  2. Poxa, é uma pena que o curso de bacharel em Geografia da UFAM não dá perspectivas de futuro aqui no Amazonas, a não ser que você queira ser um professor! Fui aprovado pelo SISU para fazê-lo esse ano. Mas, pelo visto, é melhor que eu faça o curso de Petróleo e Gás na UNINORTE, onde fui aprovado pelo PROUNI!

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