terça-feira, 14 de julho de 2015

O Devir dos Devaneios em Dívida

(André de Moraes)



Pensei em escrever o que sentia
Embora não entendesse aquele incolor
Que transformava qualquer sentimento em amor
E a qualquer coração preencheria
Oscilando do lamento a euforia
Imune mesmo ao melhor ator

Pensei em dizer o que caia
Mas o céu me fez refletir
Em quantas palavras estariam por vir
E toda aquela que com a memoria se ia
Sem a luz que tornava noite em dia
Mas com sons que nos fariam sorrir

Pensei em cantar eternidades
Mas o tempo haveria de provar
Que nem toda a humanidade pode povoar
Um coração de não saciadas vontades
Sem sossego e vagando sobre invisíveis cidades
Até o dia em que pudesse encontrar
Bar
     Mar
            Lar
Tudo na mesma idade
Numa mesma cidade
Numa mesma viagem
Ou num mesmo voar

Pensei em tornar-me vento
Mas ele não tardou a me explicar
Que em suas direções eu não poderia habitar
Pois nossas vidas eram intenso movimento
A reduzir a nada qualquer intento
Que ousasse pensar em nos barrar
Então percebi que havia muito a semear
Para manter a vida distante do lamento

Nada mais pensei
Antes satisfiz a vontade amiga
De não mais caminhar a rua não florida
E tornar sem sentido qualquer lei
Que não servisse para atestar que nada sei
Mesmo sobre a pretensa verdade mais antiga
Longe da dúvida que mantém, nutre e abriga
Todo futuro que para trás deixei


Foto: "Devaneio em Dívida", André de Moraes. Autazes, maio de 2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário