sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Connfissões

(André de Moraes)




Com as mãos a esconder
A ele sussurrou um pouco de si
Sorrindo, chorando e deixando cair
Algo que sequer havia de colher
Mas ciente do calor a volver
Voando, deixava-se ir

Jamais esquecera o segredo
E na última palavra que a faria sorrir
Quando lembrar era o início do partir
Na viagem das criações e desejos
Sorrindo como se soubesse desde cedo
Das carícias que lhe faria até dormir
Como cordas que vibram ao sentir
O violão em contato com meus dedos

Guardou como se trancas não houvesse
Os detalhes do amor que nunca lhe pertencera
Deixando o literário destino sempre à beira
De uma audaciosa vida que nunca esmorece
Ao contar à lua sobre quando anoitece
Às flores como surge a primavera
E às abelhas como se faz mel e cera

Confessou ao sol sobre suas idas
E nada mais lhe cativou no devir da memória
Apenas novos dilemas de sua velha história
Curtas em tempo, mas em espaço compridas
Que servia aos amigos como inebriante bebida
Com doses únicas de fracasso, luta e glória

Olhou para o que restava de tempo
Algo havia passado imune a sua alegria
E não mais haveria de encontrar de dia
Mas tão somente em sonhos e lamentos
Quando em tecido converteria o remendo
Na descoberta do sentido daquela anistia
Que se sobrepunha a uma tristeza tardia
Amalgamado em prazer intenso e lento

Baixinho lho falou novamente
Sem ideia de que não seria em vão
Pois, como tudo partira do coração
Dispersava no chão e no ar a semente
Que seria como chave para a mente
E chuva que inunda o coração...


Foto: "Connfissões ao Pôr-do-Sol", Rio Negro, outubro de 2013. (por André de Moraes).

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