(André de Moraes)
Na memória
Me habita o muito
Que se torna pouco
Se sem intuito
Se sem história
Da vida que resta
Faço luto
Mas também festa
Estampo como tatuagem na testa
Um tanto de tudo
Que já compõe o meu mundo
Mas também aquilo que ainda se gesta
Nasce, assim, o transitório e permanente ciclo
Pobre em dinheiro
Doce e faceiro
Mas de aventuras rico
Pois de pico em pico
Aparece um coração parceiro
O caminho
Que nos foi comum
Deu-me vontade de mais um tempinho
Mas, por acaso,
Aquele ninho
Tornou-se pequeno
E naquele sereno
Habitou o partir
Sem a valsa azul turquesa
Que outrora posta a mesa
Fez outro caminho se abrir
A conversa
De interrogações maiúsculas
Após algum bater na porta
Recolheu sua pressa
Questionou-se se realmente era essa
Sua melhor forma
Se calou
Em movimento reflexivo
Fez-se mais ouvidos
E da saudade emprestou
O costume do silêncio
E assim quedou por vários tempos
Quando, em contentamento,
Finalmente repousou
Mas viva
Era a herança do momento
Mais conhecida como lembrança
Se permitiu sobrevivência
Em virtual cadência
Doando-se ao tempo
Mas, pelas outras vivências
De semelhante teor e essência
O caminho era esquecimento
Após o tempo
Passada aquela face da saudade
O passado foi, enfim, absolvido
Des-envolvido
Pensava na carta que lhe remeteria
Com a notícia da superação
Da boa, porém, chata paixão
Que havia nos tornado noite
E, mesmo sem aquele cúmplice amanhecer,
Novamente era dia
Aquela outrora revelia
Hoje era parte de um bom viver
Não passando da intenção
Virei destinatário do destino
Remetente apenas de gratidão
A carta que me convencia que deveria existir
Foi parida por outras mãos
Justo aquelas que, quando, segurei
Fez-me perder um pouco do chão
Tendo o encontrado muito depois que as larguei
Agora nesse mesmo chão
À vontade
Deitado, leio as boas saudades
De recente tempo
E longe de qualquer lamento
Faz sorrir frente ao primeiro ano da nossa idade
Que se refez na memória
E como toda boa história
Se reinventa com o tempo
Se reproduz na saudade...
#haikaibalão
#baseadoemtatosreais
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