Ela deveria
partir
E nada a
ser feito senão acenar
Para a
delicada lágrima a rolar
E conter o
desejo do que haveria de florir
Nas
lembranças semeadas no jardim
Mas que não
mais deveriam brotar
A falta era
um aviso breve
Daquele
insistente fragmento de tempo
Que não se
ia com apenas um lamento
Mas seria
morada do sentimento nada leve
Tão comum quanto
fogo em neve
E tão apagado
quanto brasa ao vento
Um abraço
afastou a dor
Todavia o
desfazer anunciou sua volta
E como quem
visita aos inimigos sem escolta
Neguei pela
última vez àquele estridente clamor
De deixar
falar a saudade calando o amor
Permitindo-a
partir como quem um balão solta
Os sambas me
faziam sentido
Na renúncia
de todos os futuros momentos
Sentindo que,
mesmo correndo, era lento
O
afastar-se daquele desejo nada comedido
Agora rico
em ausência e deslealmente vencido
Apenas
deixava cair-se ao instrumento
A quem
confessava seu vão pensamento
De saber
onde estava, embora perdido
Não a pedi
que ficasse
Antes me
despedi como quem luta
Contra a
própria vontade doce e bruta
Desmanchada
ao menor sinal do desenlace
Tornando
úmida e lacrimal a mesma face
Que lhe
sorria mesmo na mais árdua labuta
Quando sua
voz era toda a minha escuta
E seu menor
pedido era para que eu entrasse
Flagrei-me
conversando com o tempo
Interessado
no meu passado este me contava
De quantas
muitas horas tudo aquilo se formara
E o quanto
aquele “embora” lhe era documento
Atestado de
que não fora em vão nenhum momento
E elevou aquela
sofrida ida ao status de rara
Revelando-me
que seu segredo que a tudo sara
Sempre se
iniciaria com algum sofrimento...
Ilustração: Kerolayne Kemblim.
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