André de Moraes
Despedindo-se
ia embora o sol
Levando o barco
consigo
Sem, todavia,
fechar as janelas do abrigo
Onde
cultivamos o amarelo girassol
Alimentado por
nossas luzes em farol
Que deixavam
as claras o beijo amigo
Tanto com todos
quanto comigo
Nunca se apagavam
senão abaixo de um lençol
Continuava a
leve partida
Dos
pertencimentos nunca suficientes
Para uma
vida que busca liberdade em torrente
E, vivendo o
amor, emergia decidida
Como quem um
dia ficou dividida
Mas agora
sorria como quem nunca fora contente
Ao não se
conter em desejo eminente
Deixava ir o
barco que lhe trouxera a vida
Até o
pássaro voou
Agressivo e
arredio a cada grade da gaiola
Fazendo
pensar no quanto lhe pareceu esmola
Todos os
momentos em que não se embriagou
Todos os
corações que não frequentou
E a infertilidade
de tudo que havia naquela sacola
Mas agora feliz
sorria ao pensar na nova escola
Onde a
alegria a despiu e beijou
Nada ia sem
leve alívio e lamento
Mas ficavam
os raios de sol mais ardentes
Que, no fundo,
despertavam a adormecida mente
E explicitavam
nossa virtude de ser vento
E dançar com
quem encontra ao relento
Deixando mais
sorrisos mesmo no mais contente
Enquanto o
amor se torna carinhoso e indecente
E se propaga
no leve e intenso movimento
Nuvens
testemunharam tudo
Da mais
alegre e vibrante euforia
Que vem e
volta como sexo em melodia
E ao mais
falante deixa mudo
Como quem
reconhece o prazer e abaixa o escudo
Entendendo a
despedida como uma galeria
Onde a perniciosa
arte por toda parte estaria
E sugerisse lembranças
como quem toca veludo
Mas ainda
permaneciam idas
E entre o
que se foi e o que vem depois
Nada mais
habitava senão nós dois
E nossa
liberdade de sermos almas perdidas
À encontrar a
intelectual libido naquelas descidas
Que levavam à
profundidade que sempre se expôs
E ali habitamos
nas delicias que um dia se propôs
Serem infinitas
como parecia ser sua nova vida...
Foto: Thiago Franco, 2015.