Estava desenhando no céu e lembrei do dia em que fui à lua.
Era uma nave de papelão e uma imaginação de seda. Reciclados os desejos
redundantemente almejados de ser àquele longe-solidão e voltar ao perto-multidão.
Mal sabia eu que o longe, povoado de pensamentos, me faziam tão multitativo... Eram
muitas as metades que, mesmo justapostas, não faziam inteiros, mas permitiam combinações e fertilidades. No movimento dos vales e das terminativas saudades
era o calor do atrito fundamental entre a palavra e seus labirintos. A lua despida.
O imenso contido. A volição com-pressa. O sensato perigo e a fragmentada prudência
vagavam nos indumentários batismos de uma cena deliciosamente não ensaiada. Sem
luzes, era-me refratário o lugar das muitas perdas. Doravantismos me faziam não
querer voltar. Mas, do mais parco pretérito, me seduzia a sankofa sem nunca encarar.
Lembrava-me dos deixados, dos permanecidos e das borradas nuvens lacrimais. Deixava
ali meus semblantes e suas tessituras e ao simples voltava sem a companhia de Moebius. Voltava
às multidões tardias e ali era um eu entre muitos de mim. Chovia-me
intensamente. Depois, enxuto de certezas contava as histórias, atos e assaltos. Não
fossem as crateras teria corrido. Mas a nave continuava de papelão e em seu
lugar seguro, o chão. O ponto no alto era apenas mais uma daquelas incógnitas
luzes que nunca amanhecem. Apenas deixam a sensação que poderia ter sido mais.
A lua era minha. Não mais quis desenhar no céu. Embora ainda não satisfeitos os
olhos, me bastava a mente e o coração em colorismo. Dormi uma estrela, sonhei a
Lua, virei metade do céu.
Figura: Grafiti de Mário Belém na Galeria Arte Urbana, Largo da Oliveirinha (Lisboa, Portugal)
(www.mariobelem.com / facebook.com/mariobellinni)
Foto: André de Moraes
pena que são apenas palavras vazias...
ResponderExcluirOu palavras que externam um vazio...
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