segunda-feira, 5 de maio de 2014

Sobras de Loa

(André de Moraes)




















Sobrara um fim
A revelia de tudo o que se era emoção
Mantendo-se a sós com escassa porção
E negando a ausência de flores no jardim
Que solitário fora trocado pelo botequim
Onde fazia das perdas samba-canção

Sobrara um sorriso
De todas as festas na qual fora flor
De todos os instintos que lhe fizeram ardor
E meias vontades que haviam se ido
Sem tornar breve o farto sentido
Embriagava minhas páginas com seu calor

Sobrara um pensamento
De todas as vencidas verdades
Umas descobertas no vento
Outras para além de nosso tempo
Mas todas vestidas de certa vontade
A conversar sobre o devir da próxima idade
Mais lento se traduzia em voz e sentimento

Sobrara um olhar
Que mostrava brumas de belas liberdades
Algumas ainda por existir
Outras já com mais idades
Mas todas anunciando um pretérito provir
Nas pupilas escondidas, mas que não podiam mentir
Sobre a leal condição de ainda ser mais que metade

Sobrara uma mulher
Que mesmo deitada se sentia em pé
E no auge da sua fraqueza deixava vivo o cabaré
E desdenhava daquele qualquer
Que vendo a vida lhe faltava fé
Desejando a morte lhe sobrava ré
E que para ela, no fim, era apenas um mal-me-quer...

Figura: Banksy.

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