segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Música e Leituras Ambientais na Amazônia


André de Moraes
Geógrafo e músico amador


A inserção das artes no contexto interdisciplinar tem sido discutida por vários autores. No âmbito da questão ambiental, interdisciplinar em sua essência epistemológica, a discussões são direcionadas para a educação e sensibilização ambiental e divulgação científica. A despretensiosa música de vários compositores chamados ‘regionais’ que retrata desde a natureza e o cotidiano de forma integrada possui uma leitura ambiental ainda pouco explorada.

O historiador Todorov, em seu belíssimo livro A Literatura em Perigo observa que a leitura de um romance pode ser mais reveladora que um estudo sociológico, e se pode acrescentar que o mesmo se aplica às artes em geral, inclusive a música. Nesse sentido, apresentar a música como afirmação da identidade dos saberes amazônicos sugere um aprofundamento da forma e no conteúdo das canções cuja literatura aborda ricas relações socioambientais.

Interpretações e leituras sobre a Amazônia no olhar artístico representam possibilidades que podem ser lidos com a sistematização metodológica da ciência e possuem a liberdade interpretativa das artes adentrando o campo da complexidade baseada nas teias de relações que formam sistemas complexos. A abordagem sistêmica como método de apreensão das letras de músicas que versam sobre a Amazônia surge quando se percebem que entre os diversos elementos, sejam eles coisas ou objetos se conectam e transitam entre sistemas naturais e sociais complexificando as relações e oferecendo novas perspectivas interpretativas da realidade.

Os atores sociais como o caboclo, que aparece como uma espécie de representação do povo numa versão regionalizada da história nacional, são descritos em suas diversas tramas socioambientais que se misturam tempo social e tempo ecológico de forma livre, mas nunca fugindo ao cotidiano que é povoado de natureza.

Pelas análises perpassam uma necessidade de aprofundamento empírico e teórico para desvendar do tema proposto, entretanto, resultados preliminares corroboram para uma leitura da representação ambiental na musicalidade amazônica. A personificação da natureza e naturalização de alguns hábitos representam formas outras de se debruçar sobre a realidade e podem exercer funções na complexa teia de relações que envolvem ecologia e sociologia. Para além de uma interpretação literal, as subjetividades apresentam função de possibilitar as conexões entre elementos, tal qual mitos presente em comunidades indígenas.

A leitura ambiental depende de uma visão holística cara a ciência moderna mas que parece habitar concepções artísticas de onde se pode extrair possibilidade empíricas e teóricas.

Um comentário:

  1. Admito que li de duas a três vezes alguns parágrafos para compreender meu caro André. O conhecimento empírico é tão mágico quanto a própria ciência, que em muitos casos, infelizmente o descarta sem nenhum sentido. Principalmente o empirismo relacionado às artes, e portanto, à musica. As músicas que versam sobre a Amazônia mostram de forma clara o conhecimento empírico dos artistas e compositores, e são extremamento passíveis de uma análise teorica-metodológica. E muito além disso, podem se tornar importantes ferramentas de divulgação e conscientização das análises que envolvem as relações socioambientais e portanto geográficas. Entretanto, o conhecimento empírico deve antes de tudo, ser respeitado e visto como um conhecimento complementar à ciência.

    Butel.

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