terça-feira, 19 de abril de 2011

O Precário Conhecimento de como Conhecer a Amazônia

André de Moraes


Muito se tem falado sobre o insipiente conhecimento sobre a Amazônia, mas tal fato não parece ter o devido reconhecimento. As agências de fomento à pesquisa, principalmente no âmbito da união, ainda têm deixado a desejar não reconhecendo esse fato em seus pareceres sobre projetos de pesquisa oriundos da região. Não raro, ouço depoimentos de pesquisadores próximos que evidenciam o grave desconhecimento dos consultores de tais agências do que seja fazer pesquisa na Amazônia. Esse texto visa problematizar a questão da concentração das decisões no âmbito da ciência e tecnologia no Brasil e a necessidade de revisão desse modelo.

Primeiramente, é necessário dizer que as decisões no âmbito do CNPq estão concentradas no sudeste. Isso é fato quando verificamos o mapa das UF’s de atuação dos consultores dessa agência (abaixo). Um terço do total de consultores (33%) é de origem de instituições de São Paulo enquanto toda a região norte do país tem apenas 1%. Se considerarmos que a maioria desses pesquisadores não tem pesquisas na Amazônia (o que seria o mínimo para um parecer qualitativo) temos um quadro grave de desconhecimento da realidade da pesquisa na região por parte daqueles que decidem acerca dos recursos.


Um cenário semelhante é verificado quando observamos os percentuais de doutores atuando em 2009 (bolas vermelhas no mapa). São Paulo concentra 31% destes enquanto toda a região norte tem apenas 4% do total nacional. Isso justifica os incentivos a formação e fixação de doutores na Amazônia para que estes possam captar os recursos. Tal escassez de recursos humanos poderia justificar a incipiente presença destes nos comitês, entretanto prescindir desses pesquisadores que possuem real conhecimento da realidade da pesquisa na Amazônia (custos, transporte, infraestrutura, logística, etc.) nas decisões apresenta riscos de grandes distorções que, por vezes, podem inviabilizar boas propostas. É preciso que o governo federal promova uma política de desenvolvimento induzida para a ciência e tecnologia na Amazônia. Já houve grupos que fizeram trabalhos de campo em cidades na Amazônia com R$ 200,00 para cada um da equipe passar 28 dias, pois não fora aprovado o barco no projeto. Já hove proposta de redução de custos de um projeto para infraestrutura dos campi da UFAM no interior do Amazonas que recomendava a redução de três para apenas um carro que servisse a três campi que, pasmem, não tem ligação por estrada. Em diversos projetos, a rubrica de custeio (principalmente para viagens e diárias) passa dos limites estabelecidos e tem que ser justificados contando com a sensibilidade (nem sempre presente) do parecerista.

Se ainda não temos um (ou, de preferência, vários) modelo(s) para promover o bem estar socioambiental na Amazônia isso se deve pelo fato de não a conhecermos. Com isso, torna-se urgente o aumento no grau de democratização das decisões no âmbito da ciência e tecnologia. A necessidade de pesquisas de como se faz pesquisa na Amazônia surge e urge. É necessário um esforço maior de divulgação do exercício científico na Amazônia não somente para a sociedade em geral, mas também para quem toma as decisões a fim de sensibilizar sobre a necessidade de um representatividade espacialmente democratizada. Espaços em revistas científicas para relatos de campo devem ser amplamente aproveitados para esse fim.

Falamos em conhecer a Amazônia mas me parece que estamos um estágio atrás. Ainda precisamos conhecer sobre como conhecer a Amazônia e reconhecer isso como demanda essencial para complementar as políticas atuais de desenvolvimento da ciência e tecnologia que tem sido empreendidas no Amazonas e na Amazônia como um todo. Deste modo a precisão das iniciativas podem ser maiores e seus impactos muito mais profundos.


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7 comentários:

  1. Prezado Geógrafo Andre de Moraes, muito interessante e oportuna sua abordagem.
    Tiago de Melo Smania - Brasília DF

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  2. companheiro André,
    é isso aí.
    Voce já mandou esse artigo para o CNPQ?
    deveria. E deveria mandar também para o Sec. de C&T do Amazonas e outros, para subsidiar o debate com o Brasil que está do outro lado da floresta.
    parabéns pela reflexão

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  3. Caros colegas, Andre e Ronam, parabens pelo trabalho. Esta situacao, na verdade, era bem pior antes do ano 2000, quando nao tinhamos a FAPEAM e suas parcerias com o CNPq.. Depois disso, outros estados do Norte e Nordeste tambem ja criaram suas agencias financiadoras de pesquisa. Na realidade penso que a pesquisa em ciencia e tecnologia somente vai despontar em outras regioes brasileiras quando houver uma parceria com o setor privado. As empresas precisam investir, financiar a pesquisa, como acontece nos paises ricos. Evidentemente que e fundamental estabelecer com cuidado as regras e normas dessa parceria. um abraco.

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  4. Outra vertente importante desse desconhecimento refere-se a como comprovar gastos com o trabalho de campo. Em muitos casos, nós geógrafos temos que nos deslocar para lugares com pouca ou nenehuma infra-estrutura, o que encarece a pesquisa e por vezes é preciso mudar o obejto de estudo para atender não a uma problemática da pesquisa, mas por se tratar de questões práticas, ou se tenta fazer um trabalho em um lugar mais acessível.

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  5. Cont.....
    Ou se arca sozinho com os custos e riscos, o que nem sempre temos condições financeiras de fazê-los.

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  6. Grande Andre e Maika...

    Penso que esse debete deve ser levado aos municipios pois deve reconhecer a importancia do ensino e da pesquisa em seu territorio. Isso possibilitaria ficar menos dependentes desses orgaos como o Cnpq. Em relacao ao ensino, sofri muito quando fui mandado para o careiro quando estudante de enfermagem em estagio de um mes, sem receber grana da inst. de ensino e com pouca estrutura para alojar os alunos cedida pelo municipío.
    Agusto Sousa

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  7. Augusto manda aí teu contato.
    Tava te procurando, pow.
    Augusto q estudava história e enfermagem na UFAM, certo?

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