terça-feira, 5 de abril de 2011

Por um Acidente no Percurso da Política Manauense

André de Moraes


Já prevíamos, quando das eleições de 2008, que a situação da cidade de Manaus seria ruim com o prefeito eleito. Todavia, hoje penso que todas as nossas piores expectativas estavam muito aquém daquilo que estamos vivendo. Recebo a ligação do grande companheiro Maiká, nervoso e revoltado me relatando o acidente com um ônibus expresso na Alameda Cosme Ferreira, que fez vítimas fatais. Revolto-me e fico pensativo. Chegamos ao extremo de pagar com vidas. O que mais poderá acontecer?

O planejamento e gestão urbana em Manaus nunca foram levados a sério. Entretanto não é possível afirmar que eles não existam. O problema são as mãos que conduzem esse processo e suas motivações. Uma vez esvaziado o papel do estado, entra em cena a iniciativa privada com seu objetivo-mor, o lucro, e gere a cidade segundo seus negócios. Quem garantirá o interesse público? O transporte coletivo tornou-se individual quando somos forçados a admitir que seus benefícios só residem no bolso dos empresários. De coletivo, restam todas as mazelas que o sistema proporciona: mal estar, assédio, desconforto, demora, lotação, perigo, etc. e etc. A população é educada ideologicamente pela mídia no sentido da naturalização desse processo e se detém alheia aos problemas que só os afetam quando atingem aos seus. Todas e todos pagam, muitos sofrem, poucos se indignam, menos ainda se manifestam e muitos ainda reclamam de quem protesta. O palco está montado para uma ampla discussão de como superar o problema.

Parecemos estar longe de uma solução. A licitação não é levada a sério. Estatizar o sistema está fora de cogitação. A condição de trabalho dos motoristas e cobradores é depreciadora. O fomento ao carro particular. A gestão pública sendo feita com interesses privados. Um parlamento municipal e estadual, em sua maioria pelego, sendo “massa de manobra” de caciques políticos. A representatividade não dá conta do cenário político atual. Muitos são os fatores e poucos são os atores. Somente a população pode dar o eco necessário às poucas vozes políticas, tais quais José Ricardo, Marcelo Ramos e Praciano dentre outros, com quem eu sei que podemos contar.

Esse cenário parece desesperador e tomara que o seja. A despeito dos problemas técnicos, precisamos de seriedade e competência de profissionais que forneçam a leitura adequada do sistema. O caráter político, transversal da discussão dos “problemas urbanos” parece ser uma reflexão sempre urgente. Compaixão ou pena não são bastam às pessoas que perderam os seus no acidente. Rezas e orações têm seus limites e nunca serão suficientes. Mãos delicadas com os que choram e firmes com os que exploram são muito mais construtivas. Mentes populares, coletivas, pensantes, críticas, criativas e propositivas podem, e devem, induzir um acidente no percurso político. Mas enquanto o Amazonino e seus comparsas estiverem aí, esse acidente pode até acontecer, mas sempre estará no seguro total. Por isso, Fora Amazonino!

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Um comentário:

  1. "Mentes populares, coletivas, pensantes, críticas, criativas e propositivas podem, e devem, induzir um acidente no percurso político."

    Você expressou muito bem os anseios e a indignação de muitos que há muito não se conformam com o que está posto. No entanto, precisamos cada vez mais pôr isso à tona, de forma diferenciada do que vem sendo posto nos meios convencionais de comunicação. Vejo que isso deve ser levado a diante para que possamos construir continuamente a formação dessas mentes que vc citou, pois só dessa forma, teremos capacidade de mudanças. Valeu pela iniciativa! Parabéns pelo texto.

    Patrícia

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