sábado, 10 de julho de 2010

A Estrada

Sempre podemos por lentes nas coisas para vê-las de outra forma, mas mesmo assim, elas nunca deixam de ter o seu real sentido para nós.



A Estrada

(André de Moraes)


Na noite em que nada parecia bem de repente me deu uma segurança como de uma criança que dorme nos braços de sua mãe. Estava numa estrada que me levava à sensações maravilhosas. Via-me carregando alguém no colo e sorrindo com alegria de quem vive sem se preocupar com o amanhã. A estrada não me oferecia total certeza daquilo que me tornaria, mas tinha uma refletida vontade de continuar. Passei noites em claro nessa estrada e não me importava com o dia se este clareasse, pensando o quão bom seria ver o nascer do sol para o feitiço do amor. Num momento parei. Vi uma flecha que atingira o coração de uma criança que buscava pelo pai. Tentei tomá-la no colo, mas o medo me restringia. Voltei-me para o meu coração e o instiguei porque fazia aquilo comigo. Busquei auxílio à companheira da estrada que também não sabia o que fazer, mesmo assim, continuávamos, perseguíamos algo que até então não estava bem claro em nossas mentes, mas parecia ser um futuro que não dependeria da duvida presente. Assim converti meu medo em esperança, mesmo não sabendo que rumo esta tomaria. Em certos momentos, me distraia da estrada e via novos rumos onde não poderia traçar acompanhado, e me voltava novamente para a certeza que me oferecia o caminho que hora traçava mesmo com algumas incertezas, mas com escuros que construíam. As canções que nos embalavam e marcavam os passos pareciam com a vida que ainda tínhamos para correr, sem cansar. Amigos que me mantinham com os olhos voltados para um alvo me envolviam pela sua experiência. A natureza que norteava os momentos de abraço não respeitava o asfalto nem o concreto de algumas porções que vinham e voltavam. Por vezes me ausentava da estrada para construir outros futuros que não excluíam tal caminhada, inverso, a estendia até mais perspectivas. Ausências que rendiam idas e voltas no trajeto a qual se tinha proposto. A volta! Sempre com notícias do que não se tinha vivido na perspicaz vontade de compensação. As chamas que aqueciam nossos dias disfarçados de noites, não deixavam de ter seus calafrios, mas que não pareciam fugir de tudo o que a força de um desejo poderia mostrar. Sorrisos não eram raros, confusões também não. Diálogos eram intermitentes e perenes os desentendimentos. Vou desistir... e logo as “coisas da vida” que Roberto Carlos ilustra em melodia funcionavam como explicação para o desconhecido. Atenuante de histórias ruins eram os doces e beijos não explicados. Abraços não se perdiam, mas encontravam um conjunto de frases que, sem sabem como medi-las, vagavam da boca de um ao coração do outro. A militância por causas nobres de interesse social permeava o caminho, o que deixava a estrada mais bela, longe das angustias de quem pensa no melhor e tem braços curtos para estender aos companheiros que sofrem. Cartas de longe, diziam não de solidões inexploradas, mas de poesia atípicas de quem não sofre e mesmo assim sente saudades ao ponto de mastigar a distância na espera do manancial da chegada. Brincar de ser feliz. Brincar com a felicidade. Brincar com as circunstâncias que ilustram mais que imagens em movimento, mas a complexidade de duas vidas tentando a singularidade que não abre mão dos olhos nos olhos e das mãos juntas. O alimento não sadio das beiras da estrada alimentava a alma em fadiga e acordava para que um momento se tivesse junto. Intrigas com os outros andarilhos mais maduros que nem sempre compreendiam o percurso perdiam para a inconseqüência da juventude. E noites, estreladas ou chuvosas, longas ou curtas, de sono ou de exagerada sobriedade ociosa. Quanta coisa interessante se vive nessa estrada que parecia não ter fim! De repente as notícias que chegaram da “rua” não eram tão compatíveis com as nuas calmas. Distantes na mesma estrada. Caminhando junto-separados não se via harmonia nos passos e se distanciava de forma que não podia alcançar. Tentei correr. Tentei voar, mas me faltaram asas. Vi que a forma de chegar estava no ceder. Estou errado! Não fui o melhor companheiro que minhas parcas experiências permitiam. Parei e sentei na beira, disposto a pedir carona. Voltou e me deu a mão que reluzia a oportunidade da redenção. Sem dúvidas, certo do que queria, levantei e disposto a continuar a caminhada em outro ritmo com um novo vigor e asas, quando... Um nobre desconhecido me acorda declarando meus delírios. Era um sonho... Que vontade de voltar a dormir!

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