domingo, 26 de junho de 2016

A Rebeldia em Flor

Há exatos um ano atrás, era aprovado o casamento civil entre homossexuais nos EUA. Pelo dia, escrevi essa poesia.

A Rebeldia em Flor
(André de Moraes)

Havia um coração
Que não batia em sintonia
Antes golpeado noite e dia
Consultava sua razão
Se realmente seu lugar era o chão
Enquanto o ocisoso jardim adormecia

Havia uma canção
Que entornava os dissabores da vida
Mas, em esperança, aliviava a ferida
Mesmo no cruel esmagar do botão
E mais uma vez recusava a lição
Que lhe pregava ser discreta e contida

Havia um sonho em cores
Com os quais nunca pudera dormir
Antes velejando no intenso devir
De quando a sorte lhe permitiu sabores
Pelo qual enfrentou beijos e rancores
Para mais vezes sentir o chão se abrir

Havia um abraço
Que continha um silêncio arredio
Mas gritava em prazer seu cio
E no céu se desenhava o traço
Que haveria de, um dia, ser o laço
A aquecer o coração em dia frio

Havia luta
Nada que fugisse à noite mal dormida
O choro da criança não parida
E a lágrima oculta
Que era engolida com a força bruta
Dos que tinham a felicidade inrustida

Havia resistência
Em cada passo vigiado
Nas ruas em redobrado cuidado
Não cultivava sua essência
Antes engolia cada gole da vil carência
Que substituia o que lhe fora roubado

Um dia, o cinza partiu
E as cores invadiram as casas
Bem-vindas, semearam asas
E a liberdade imergiu
Mesmo sendo apenas um passo de mil
Ardia em seu peito como lava
Embriagando o coração com taça rasa
Sozinha, a flor nunca mais dormiu...

#lovewins

Dedicado a todxs aquelxs que comemoram o dia quando o amor e as cores prelaveceram sobre o ódio e o cinza <3 \o/

terça-feira, 14 de junho de 2016

O Céu de Irrepetidas Nuvens

(André de Moraes)

Eu desejo você
Que nem calada, nem falante
Faz de idéias o mais belo turbante
E me deixa, em cada abraço, esmorecer
Mesmo na mais sutil lembrança
Que na memória se desenha como trança
E dá vivo tom ao nosso traço em ser

Eu desejo você
Como quem ensaia uma canção
Dessas menos clichês ao violão
E pela melodia se deixa envolver
Ao ter sua dança como o bom livro
Que deixa-nos mais frágeis que vidro
Ao permitir a tempestade nascer
Para que a música ouse deixar florescer
A aventura de renunciar um alívio

Eu desejo você
Como verso que recusou a prosa
Rima que se rebelou contra a trova
Literatura que se rasgou ao dizer
Que mil regras havia de rever
Se nada pudesse exprimir a vontade
Que, de tão intensa, já ganhava idade
E em papel não deitaria seu escrever
Antes declamaria-se para caber
Nos fartos seios de nossa vontade

Eu desejo você
Como queria a flor que não fora colhida
Ainda viva e bela, mas de certo incontida
Pelo ócio da mão que não a acariciou
À espera do contente polinizador
Inventa outro mundo onde seria sua vida
Não apenas enfeite ou comida
Mas qualquer existência no sentido do amor

Eu desejo você
Não como mero corpo
Mas como ser composto
Cuja queda desafia o fundo de qualquer poço
E o navegar desconhece destinos e cais
Ficando sempre ao ouvir "onde vai?"
E cutivando cada semente daquele caroço
Que semelhante ao cão que não larga o osso
Nunca se satisfaz
Sempre quer mais
Mais daqueles ais...