quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Fluir




















 





Fluir
(André de Moraes)

Ali, inspirado de chuva
Percebia o dia no passear da hora
Ebulindo em si somente o agora
Quando gotas o tocavam sem luva
Deixando escorrer a visão turva
Via a tristeza, de guarda-chuva, ir embora...


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Árvores, Raízes ao Céu


(André de Moraes)
















As folhas que outrora se banhavam no vento
Naquela despedida se fizeram descontentamento
De um corte na consciência fazendo ir ao chão
Os caminhos da natureza que nunca foram em vão
Abortados pelo pragmatismo medíocre em sacramento
Que não passam de um olhar advindo de cego coração

A distante cidade do bem estar rarefeito
Despida foi da vida perdida em incomum leito
Pelos que amordaçam o verde em cruel insanidade
Deixando aflorar a olho nu sua prostituta verdade
Colhendo um uso-fruto que nunca semearam no peito
Por um vil pragmatismo de manifesta futilidade

As expostas raízes apenas sustinham o vão
Documentando em perdida seiva ausência e solidão
Afligindo aos muitos que ali cultivaram presença
Desta agora ferida árvore, todavia sua inocência
Cuja queda nos faz iguais ao estender a mão
Para levantar uma existência livre da humana doença

Assim declinava mais uma coletiva varanda
Onde pequenos ensejos suspiravam em demanda
Adormecidos sob sua sombra contavam os dias
E no exagerado sol despertaria, ao menos, a utopia
Na explícita vontade de manter uma vida cunhã
Recusando que nos ceifem idades e amanhãs
Novamente semeando a vida para que dê cria
E a terra no seu descanso seja mãe, filha e irmã...


Fonte da figura: http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2012/09/arvore-do-largo-sao-sebastiao-e-cortada-e-gera-polemica-em-manaus.html

sábado, 15 de setembro de 2012

Perdidos Em-cantos


Perdidos Em-cantos
(André de Moraes)




















Ao longe enxergava o latente desejo
E vestindo-a de vinho, vida e prazer
Nada servia senão o gole de um feliz amanhecer
Saindo de cena, evocava a solidão em cortejo
Mas não hábil em desfazer a lembrança do beijo
Abria sua postura somente em doses a volver

Incontido no particular escambo do corpo
Sem fronteiras lapidava os gestos imunes
Na efemeridade feita eterna para que coadunes
De frente calada, de costas falada ou gemido dorso
No pensamento não demoraria a germinar o caroço
Do adeus em sutil disfarce inalado como perfumes

Aos segundos delirados em cores
Nada atenuavam o desbotar primaveril
Pois o calor apenas predizia o presente frio
E no jardim nunca houvera os perfeitos amores
No corpo a lembrança e no pensamento os sabores
Chorou partida,
Acenou despedida,
E desceu ao rio
Onde fluídos romances apenas saciavam seu cio
E a correnteza levava, em troca, seus rancores...