Abaixo uma resenha que fiz de um livro maravilhoso que li nesse carnaval. Para mudar nossa relação com a literatura e ela mudar nossa relação com o mundo.
TODOROV, Tzvetan. A Literatura em Perigo. São Paulo: DIFEL, 2009.
Sempre me chamou atenção o Neruda não lido solicitado para devolução em “Tocando em Miúdos” de Chico Buarque. Uma alusão preocupante à pseudo-intelectualidade que a simples posse de um livro parece oferecer perfaz a reflexão. E mais grave que isso: não conheço uma pessoa se quer que ponha em cheque a importância da literatura em contradição aos baixíssimos índices de leitura no Brasil. O que está acontecendo? O que distancia as pessoas de algo que elas mesmas assumem ser vital? De repente, soa o alarme! Uma denúncia devidamente identificada aparece na França: A Literatura está em Perigo! A atenção de um leitor em Manaus, AM, Brasil cuida de tentar difundir o caso para que o máximo de pessoas possam se mobilizar para o salvamento. Disto se trata esse escrito: um alerta aos atentos e um atento os alertos.
A premissa é conhecida: os meios estão se convertendo em fins. A fortuna crítica é ditada pelos métodos via forma e não permite o contato do leitor com a simples e pura aventura da leitura. A literatura não é apresentada aos estudantes sem que estes tenham tarefas como analisar sintaticamente o texto. Regras gramaticais como abre alas não tem garantido que o público queira prestigiar todo o desfile literário com toda a riqueza e fantasia. A construção histórica desse paradigma reclama uma atenção ao fato da arte ter ou não a relação com o “mundo exterior”: serão polarizadas as opções em “baseada em fatos reais” ou “qualquer semelhança é mera coincidência”? Todorov esclarece que o diálogo da literatura com o mundo externo a ela deve se dar via leitor numa relação fecunda e criativa para o construto de novos horizontes de compreensão da realidade por este que decifra letras. “Todos os ‘métodos’ são bons desde que continuem a ser meios em vez de se tornarem fins”, pois a eles cabe surgir uma vez definido o objetivo, do contrário...
Os métodos são bem vindos. Podem ficar, tomar um café e aguardar sua vez enquanto a fecundidade emerge de paradas entre parágrafos para imaginar, rir, chorar. Depois se entende a engenhosidade do autor na “Construção”, com o qual podemos relembrar Chico novamente.
Depois de já ter lido a obra e parado por várias vezes para simplesmente imaginar, pensei na função metalingüística em segundo grau desta resenha e seu movimento. Um texto, falando de um livro que fala da literatura, com o objetivo de que os leitores cheguem ao livro e por sua vez, adotem outros caminhos para a literatura. Dentro e fora. Ir e vir. Sendo que a volta não pode ser como a narrada por Chico em “Trocando em Miúdos”, mas que chegar e partir, sejam só dois lados da mesma viagem, como Milton e Brant sugerem, o que com um Neruda, fica ainda melhor.
Leia!
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